RIO DE JANEIRO (O REPÓRTER) - Premiações são, em sua essência, polêmicas. Não há como agradar a todos e sempre haverá aqueles que discordam e os que concordam. E quando se trata do Oscar, a premiação mais popular do planeta, isso se multiplica. O que vimos na cerimônia de 2011, que aconteceu neste domingo (27), em Los Angeles, nos Estados Unidos, foi a própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dividida.
O grande vencedor da noite foi “O Discurso do Rei”, que levou os prêmios de melhor filme, melhor diretor, melhor ator e melhor roteiro original. Ao mesmo tempo, o filme se transformou em um dos maiores perdedores da história do Oscar: apenas três filmes indicados a 12 categorias deixaram de ganhar tantos prêmios quanto o longa de Tom Hooper. Somente “Belinda”, em 1949, “Becket”, em 1964, e “Reds”, em 1981, foram indicados tantas vezes e conseguiram menos troféus. A situação fica ainda pior se lembrarmos que nenhum desses três venceu a categoria de melhor filme. Se considerarmos os filmes indicados 12 vezes e vencedores do prêmio principal, “O Discurso do Rei” estabeleceu um novo recorde negativo. E qual seria o motivo para isso?
O cinema está mudando. Na premiação de 2010, vimos um filme futurístico e que apostava muito mais em sua parte técnica do que em seu roteiro brigando contra um filme de guerra, que era, até certo ponto, tradicional, mas irrepreensível. E a vitória de “Guerra ao Terror” – merecida e inquestionável – deixou a dúvida se a Academia estaria pronta para filmes mais modernos. Este ano, tivemos algo parecido. De um lado, “O Discurso do Rei”, longa que levou de volta ao circuito de premiações aquilo que os filmes época têm de melhor (e de pior). De outro, "A Rede Social", um filme que utilizava a criação do site Facebook como pano de fundo para caracterizar a atual geração. Isso sem contar o grande blockbuster do ano, “A Origem”. Novamente, a Academia precisava fazer uma escolha entre o moderno e o tradicional. E novamente o tradicional venceu, mas nem tanto assim.
As principais derrotas de “O Discurso do Rei” foram nas categorias de direção de arte e figurino, nas quais, embora não fosse favorito absoluto, deveria ter uma certa vantagem. Esbarrou, porém, na eficiência de “Alice no País das Maravilhas”, um filme de Tim Burton, mestre nessas áreas. Também não foi uma grande surpresa a vitória de “A Rede Social” em melhor trilha sonora, uma vez que se tratava de um trabalho que dialogava com o filme em si de uma maneira que poucos (“A Origem”, talvez) conseguiram. No entanto, fosse “O Discurso do Rei” a escolha absoluta da Academia, não passaria em branco aqui também.
Mas o Oscar 2011 não se limitou somente à disputa entre os dois filmes. “O Vencedor”, filme de George O. Russell, conseguiu duas vitórias muito importantes: melhor atriz coadjuvante para Melissa Leo e melhor ator coadjuvante para Christian Bale. Os dois eram favoritíssimos ao prêmio do início ao fim da temporada de premiações, mas havia a dúvida sobre a força dos coadjuvantes de “O Discurso do Rei”, que, mais uma vez, mostrou-se superestimada.
Alguns prêmios eram certezas e não havia a menor chance de não acontecerem: “A Rede Social” venceu na categoria de melhor roteiro adaptado e melhor montagem, “Toy Story 3” ficou com o de melhor animação e o de melhor canção original (para “We Belong Together”, de Randy Newman) e Natalie Portman levou seu primeiro Oscar de melhor atriz por “Cisne Negro”. Já “A Origem” surpreendeu com quatro estatuetas, uma vez que eram esperadas apenas as vitórias em melhor edição de som, melhor mixagem de som e melhores efeitos visuais. O triunfo do filme de Christopher Nolan em melhor fotografia foi, provavelmente, o maior choque de uma premiação sem grandes surpresas.
Outros filmes importantes da temporada saíram de mãos vazias. “Bravura Indômita”, dos irmãos Coen, indicado a 10 categorias, foi o principal deles. “127 Horas”, “Inverno da Alma” e “Minhas Mães e Meu Pai” foram outros a terminar a noite sem vitórias. A ironia é que todos eles são melhores que o extremamente fraco “O Lobisomem”, que poderá se gabar de ter levado um Oscar – o de maquiagem (que, para ser justo, não era ruim).
A cerimônia em si começou espetacular, mas perdeu força à medida que o tempo foi passando. O apresentador James Franco parecia entediado e sobrecarregou sua companheira de palco, Anne Hathaway, que tentava de todas as formas entreter o público por mais de 3 horas. Tudo estava tão absolutamente mal escrito que o ponto alto da noite foi quando o ator Kirk Douglas, de 94 anos, saiu do script e improvisou piadas, levando os produtores da cerimônia à loucura e o público ao delírio. E quando Billy Crystal, antigo apresentador do Oscar, subiu ao palco e o todo o Kodak Theater aplaudiu de pé, era possível notar que as pessoas presentes não estavam satisfeitas com o que estavam vendo.
No total, “O Discurso do Rei” levou 4 troféus, assim como “A Origem”. “A Rede Social” ficou com três, enquanto que “O Vencedor”, “Alice no País das Maravilhas” e “Toy Story 3” ganharam duas categorias e “O Lobisomem”, uma. O Oscar teve ainda as vitórias de “The Lost Thing” (melhor curta de animação), “God of Love” (melhor curta), “Strangers No More” (melhor curta documentário) e “Trabalho Interno” (melhor documentário).
Há muitas maneiras de se analisar a premiação de ontem. Olhando para os prêmios principais vencidos por “O Discurso do Rei”, pode-se pensar que talvez a Academia tenha pego a saída mais fácil e premiado o filme que quebrava menos barreiras no cinema. Porém, os mais otimistas dirão que a divisão de prêmios mostra que a Academia talvez – talvez – esteja disposta a dar alguns passos a frente e finalmente entrar no Século XXI.
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